Transtornos alimentares: anorexia e bulimia

O estímulo à autoestima e aos hábitos saudáveis é a chave para evitar esses transtornos.

Os transtornos da conduta alimentar podem ser devastadores. E costumam aparecer muito cedo. Por isso, é importante que os pais saibam reconhecer os sintomas o quanto antes para poder abordar o problema o mais rápido possível.

Os TCA incluem um conjunto de alterações graves no consumo de alimentos. As mais observadas na adolescência são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

Essas alterações afetam principalmente as mulheres

Os transtornos da conduta alimentar são muito habituais em mulheres entre 13 e 20 anos, e seus efeitos podem ser devastadores. Por isso, é importante que os pais saibam reconhecer os sintomas o quanto antes para poder abordar o problema o mais rápido possível.

O que são?

Os transtornos da conduta alimentar (TCA) incluem um conjunto de alterações específicas e graves em relação ao consumo de alimentos. As mais observadas na adolescência são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

Segundo dados para as populações ocidentais, esses transtornos afetam principalmente o sexo feminino, existindo uma prevalência de 1% para a anorexia nervosa e de 3,5% para a bulimia nervosa. Esses indicadores são baixos devido à falta de diagnóstico de muitos casos e à negação da existência do problema por parte das famílias.

Recentemente, foram identificados outros distúrbios, como o transtorno da compulsão alimentar periódica (ingestão descontrolada de grandes quantidades de comida, mas sem condutas compensatórias); a ortorexia nervosa (obsessão ou preocupação extrema com alimentação saudável); a vigorexia (obsessão por alcançar um corpo “perfeito”); e a alcoorexia (deixar de comer para compensar a ingesta calórica unicamente com bebidas alcoólicas).

Como identificar os TCA?

A anorexia nervosa implica uma rejeição ou temor a manter o peso acima do mínimo normal para a idade e o tamanho, emagrecimento marcante, amenorreia (ausência de pelo menos três ciclos menstruais) e distorção da imagem corporal. Afeta principalmente as meninas entre 13 e 17 anos.

Os sintomas de alerta são a hiperatividade física, a negação da fome, não comer na frente de outras pessoas, inconformidade com o próprio corpo, retração social e, em alguns casos, interesse obsessivo por atividades intelectuais. Podem existir ou não condutas purgativas, tais como indução de vômitos ou consumo de laxantes e diuréticos.

A bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão compulsiva de grandes quantidades de comida em um curto período de tempo. Isso provoca um sentimento de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio e a prática de conduta compensatória inadequada para evitar o ganho de peso, como vômitos provocados, abuso de laxantes e diuréticos, jejum e exercício excessivo.

Tanto a ingestão compulsiva como a conduta compensatória devem se repetir pelo menos duas vezes na semana durante três meses para serem diagnosticadas. O problema afeta especialmente mulheres entre 18 e 20 anos.

Quais são as causas?

As causas dos TCA são variadas, e ainda não foi possível identificar a origem exata dessas condutas. As teorias propostas incluem fatores culturais e ambientais, tais como a influência da moda, da publicidade e dos meios de comunicação; o papel social da mulher; a proliferação de produtos e serviços para emagrecer; a rejeição social à obesidade e ao sobrepeso; e a exibição do corpo – esses são alguns dos fenômenos aceitos socialmente que influenciam negativamente a percepção do corpo e dos ideais de beleza. Também pode-se incluir a pressão familiar, a dificuldade de comunicação e a pouca afetividade.

Por outro lado, estudos indicam que existem determinantes genéticos relacionados ao consumo de alimentos e à ação dos neurotransmissores nos circuitos cerebrais de gratificação. Como acontece em muitos casos, os fatores do ambiente são condicionantes na expressão ou não dos genes, o que aumenta a complexidade desses problemas.

Quais são as consequências?

As consequências podem se iniciar em pouco tempo e resultar em emagrecimento (no caso de anorexia), queda de cabelo e unhas quebradiças (por carência de nutrientes).

Alguns dos sintomas que exigem atenção médica são: desidratação, mal funcionamento do fígado ou dos rins, arritmias cardíacas, frequência cardíaca inferior a 45 pulsações por minuto, desmaios, vômitos graves com sangue, dilatação gástrica aguda, osteoporose, intolerância ao frio, prisão de ventre e diminuição de glóbulos brancos (que aumenta a probabilidade de contrair infecções).

Como é o tratamento?

Apesar desses transtornos se expressarem por meio de perturbações na alimentação, é importante ressaltar que o problema dos pacientes não é exclusivamente a comida. Assim, os tratamentos puramente nutricionais costumam fracassar.

O tratamento dos TCA deve envolver a participação de uma equipe interdisciplinar que inclua médico, psiquiatra, psicólogo e nutricionista, levando em conta as distintas dimensões da pessoa.

É de extrema importância o envolvimento familiar no processo, mediante o apoio e a contenção do paciente, assim como no reforço de sua autoestima. Tanto a família quanto os amigos próximos devem estar atentos aos sinais de alerta e consultar um especialista diante de qualquer dúvida, para poder oferecer cuidado precoce.

Devemos recordar que a comida não têm apenas função alimentar e nutricional, embora ambos aspectos sejam essenciais. Ela também cumpre um papel em torno da qual se organizam atividades sociais como reuniões, aniversários e festas. Também se relaciona a recordações de situações passadas, tanto positivas quanto negativas. Ambos aspectos devem ser lembrados no momento do tratamento e na forma de entender e ajudar o paciente, para evitar sua exclusão de atividades sociais.

Recuperar os valores e a rotina da família à mesa e compartilhar as refeições desde o planejamento e o preparo são ferramentas úteis tanto para evitar como para tratar esses transtornos.

María Celeste Airaldi
Psicóloga/ Paraguay
Psicóloga, professora de graduação e de pós-graduação.

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