Habilidades socioemocionais e autismo: como desenvolvê-las em sala de aula?

Desenvolver a capacidade intelectual e cognitiva dos estudantes é, sem dúvida, uma parte fundamental do processo educativo. No entanto, não é de hoje que a educação reconhece que preparar os alunos para os desafios da vida exige muito mais do que o domínio de conteúdos acadêmicos.
A formação integral reconhece o sujeito em sua totalidade (cognitivo + físico + socioemocional). Isso significa que a educação deve desenvolver também habilidades como empatia, resiliência, cooperação, responsabilidade e autoconhecimento – competências cada vez mais valorizadas no mundo contemporâneo.
Afinal, o que são habilidades socioemocionais?
As habilidades socioemocionais podem ser definidas como a capacidade do ser humano de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, assim como perceber e lidar de forma respeitosa com os sentimentos das outras pessoas. Em suma, muito mais que competências individuais, essas habilidades estão diretamente ligadas à construção de relações interpessoais saudáveis. É nesse contexto que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece o desenvolvimento das competências socioemocionais como parte integrante da formação dos estudantes – um compromisso que deve estar presente não só no currículo, mas também na prática pedagógica e na cultura da escola. Mais do que cumprir uma exigência legal, essa diretriz convida educadores, famílias e instituições de ensino a enxergarem a educação como um processo que vai além do domínio de conteúdos acadêmicos. Trabalhar as habilidades socioemocionais em sala de aula é preparar os estudantes para a vida em sociedade.Habilidades socioemocionais e autismo: caminhos possíveis
A escola tem a função social de ser espaço plural e inclusivo. Diante disso, quando pensando na inclusão de estudantes “neurodivergentes”, é de sua importância o professor considerar o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, em sua prática. Crianças e adolescentes com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem apresentar dificuldades na comunicação, compreensão de expressões emocionais e interações sociais. Por isso, trabalhar essas competências de forma sensível e adaptada contribui não só para o desenvolvimento individual, como também para a construção de uma cultura escolar mais inclusiva, respeitosa e empática. Promover a inclusão significa reconhecer e valorizar as diferentes formas de sentir, pensar e se expressar. E nesse sentido, as habilidades socioemocionais funcionam como pontes que aproximam os estudantes e ampliam as possibilidades de convivência e aprendizado mútuo.Como trabalhar as habilidades socioemocionais em sala de aula?
A escola é um espaço de convivência, troca e aprendizado – e isso vai muito além dos conteúdos acadêmicos, não é mesmo? É também um ambiente onde se aprendem valores, atitudes e sentimentos. Justamente por ser um espaço construído a partir das relações sociais e da diversidade, ele se torna o local perfeito para promover o desenvolvimento das habilidades socioemocionais da infância à adolescência. Nesse contexto, é papel do educador em parceria com a família, criar um ambiente seguro e acolhedor, onde todos os estudantes possam expressar suas emoções, lidar com frustrações, desenvolver a empatia e fortalecer o respeito às diferenças. A seguir, separamos algumas dicas para trabalhar as competências socioemocionais em sala de aula, com foco especial em crianças e adolescentes do espectro autista. Confira:- Incentive a troca de experiências Que tal incluir na rotina da sua turma momentos dedicados ao compartilhamento de sentimentos, experiências e opiniões? Essa é uma excelente maneira de fortalecer a empatia, o respeito e a escuta ativa, além de promover um ambiente mais acolhedor, colaborativo e aberto ao diálogo. Para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), isso pode ser feito por meio de recursos visuais, histórias sociais, jogos simbólicos ou mesmo diários ilustrados.
- Estimule o trabalho colaborativo Atividades em grupo, quando bem mediadas, ajudam a desenvolver habilidades como cooperação, respeito e resolução de conflitos. No caso de alunos que estão dentro do espectro autista, é importante que essas dinâmicas sejam bem estruturadas, com papéis definidos e objetivos claros, respeitando os limites e preferências individuais.
- Promova projetos interdisciplinares Integrar diferentes disciplinas com temas transversais (diversidade, cidadania, ética e sustentabilidade) não só ajuda a ampliar a visão de mundo dos alunos e a desenvolver valores humanos, como também estimula reflexões profundas sobre o mundo em que vivem. Recursos multisensoriais, como vídeos, objetos concretos, música ou dramatizações são ótimas opções para facilitar a compreensão e engajamento de crianças e adolescentes com autismo.
- Utilize a literatura Além de abrir portas para universos mágicos e transmitir conhecimentos, os livros também são poderosos aliados no desenvolvimento das habilidades socioemocionais. Recursos como leitura mediada e dramatização podem enriquecer a experiência dos alunos que estão dentro do espectro autista. Por meio das histórias, os estudantes podem se conectar com personagens, vivenciar dilemas e refletir sobre emoções, escolhas e consequências, por exemplo. Esse tipo de experiência favorece o desenvolvimento da empatia, do autoconhecimento e do senso crítico.
- Promova a autoestima Fortalecer a autoestima é fundamental para o desenvolvimento emocional de qualquer estudante – e, no caso de crianças e adolescentes com TEA, esse cuidado deve ser ainda mais presente. Reconhecer o esforço, a dedicação e os pequenos avanços cotidianos fazem toda a diferença. Murais de conquistas, certificados simbólicos e cartões de incentivo são ótimas estratégias para mostrar aos alunos que cada passo – por menor que ele seja – é uma vitória a ser celebrada.
- Aposte em feedbacks construtivos e na mediação de conflitos É natural que, em um ambiente de convivência, surjam conflitos entre os alunos – afinal, discordar de opiniões, lidar com frustrações ou enfrentar desafios em grupo faz parte das interações humanas, não é mesmo?! No entanto, mais do que evitar os conflitos, o papel da escola é transformá-los em oportunidades de aprendizado. A mediação desses momentos ajuda os estudantes a compreender diferentes pontos de vista, desenvolverem habilidades de negociação, escuta e autorregulação emocional. Além disso, oferecer feedbacks construtivos, que valorizam o esforço e o progresso, fortalece a autoconfiança e motiva a melhoria contínua. No caso de crianças e adolescentes autistas, é legal utilizar reforços positivos imediatos e claros, destacando comportamentos respeitosos e atitudes de cooperação. Ah, lembre-se que consistência e previsibilidade são muito importantes para os alunos “neurodivergentes”.